SE O MILAGRE NÃO VEM, SENTIMO-NOS ABONDONADOS

No livro Como enfrentar o Sofrimento, lançado em 2003 o artigo escrito pelo Rev. Jeremias Pereira tocou meu coração profundamente. No texto, ele relata o processo de luto que experimentou após a morte de sua esposa Ana Maria, vítima de um câncer. “A morte é inevitável; a dor indescritível; o luto é um processo pelo qual tenho que passar para sarar. O fato de Deus realizar o impossível em alguns, para alguns e algumas vezes, e não realizar em outros e para outros, o fato de Deus curar alguns e outros não, são mistérios divinos”, escreveu Rev. Jeremias.

A natureza humana espera pelo milagre e, quando ele vem, somos tomados por uma alegria efusiva; pelo desejo de gritar aos quatro ventos as bênçãos recebidas. Mas e quando o tão esperado milagre não chega e se perde uma pessoa amada a despeito da oração incessante? Se o milagre não vem, corremos o risco de culparmos Deus, desacreditarmos de Seu poder, perdermos o fervor espiritual. Com nossa fé abalada, a Bíblia pode parecer um livro árido e a oração, uma reza vazia; a paz some do coração e da mente, levando a uma montanha-russa emocional e, até mesmo, a processos depressivos e ideias suicidas.

Se o milagre não vem, sentimo-nos abandonados, aflitos e solitários. Entretanto, como cristãos, precisamos estar preparados para ambas as situações, ou seja, a permanecermos na fé com ou sem milagre. Quando o milagre não vem, precisamos lembrar que o projeto de Deus para nossas vidas não se limita a sinais de sucesso e bênçãos infinitas. A presença do Senhor também precisa ser sentida na dor, no sofrimento, na decepção e na angústia, pois somente na Vida Eterna estaremos livres de todas as mazelas humanas.

Enquanto vivermos, teremos desafios e lutas a enfrentar: com ganhos e perdas, risos e lágrimas. Por isso, temos que ter em mente e ministrar em nosso próprio coração que Deus é maior. “Pela fé… obtiveram promessas, receberam pela ressurreição os seus mortos (…) Pela fé… foram torturados, provados, serrados pelo meio, mortos ao fio da espada (…) Ora, todos estes… obtiveram bom testemunho por sua fé” (Hb 11:33-39). Deus é soberano e está presente mesmo que estejamos destroçados pela dor e Ele é o mesmo que fechou a boca dos leões (Hb 11:33) e que permitiu que cristãos fossem serrados ao meio (Hb 11;37). Ele é Deus e fomos criados para glorifica-lo e amá-lo, independente da circunstância.

É óbvio que isso não é algo simples de viver, muito menos de sentir. E ciente da dificuldade que, como seres humanos, teríamos de nos mantermos firmes em meio à tempestade, Deus nos deu Jesus Cristo, que prometeu que estaria conosco todos os dias, até a consumação dos séculos (Mt 28:20b). E é essa certeza que nos servirá de sustento na adversidade. Descansar no amor e na fidelidade do Pai é o que nos permite sobreviver às perdas e ao sofrimento. “Espera pelo Senhor, tem bom ânimo, e fortifique-se o teu coração; espera, pois, pelo Senhor” (Sl 27:14). Ele, em Sua infinita misericórdia, nos dará o alívio e a esperança necessários a prosseguir em nossa caminhada.

Quando o milagre não vem, entristecer-se é natural. Negar a dor é anti-humano e anticristão e podemos, sim, chorar e lamentar nossas perdas e dores. A diferença é que não devemos nos entristecer como “os demais que não têm esperança” (1Ts 4:13). Mantendo-se perto de Deus, nossas forças serão restauradas e nossas emoções reorganizadas. A dor se transformará em saudade; a agonia, em paz; o desamparo, em esperança. E somente Deus pode fazer isso, pois “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação; Que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus” (2Co 1:3,4).